Talvez a frase que mais ouça da boca de meu filho seja:
– Isto não é justo.
Não sei por qual razão, mas desde muito cedo ele tem um senso de justiça que chega a incomodar. Os questionamentos vão desde a divisão de um pedaço de bolo, passando pela mesada até coisas mais complexas – as atitudes das pessoas, por exemplo.
Costumo brincar que nem tudo é uma questão de justiça apenas. Há muita coisa que se tem por méritos, mas nem tudo se resume a uma conta exata.
Mas… vamos diretos ao ponto. Essa introdução, tipo “nariz de cera” (coisa de jornalista, ok?), é para tratar sobre justiça e dar o exemplo.
Hoje pela manhã, li o tweet de uma aluna. Ela questionava o fato de alguns educadores exigirem o cumprimento de prazos, mas não entregarem as notas na época combinada.
Brinquei com ela:
– Isso não vale para mim.
Mas fiquei pensando na profundidade do que essa estudante escreveu. Será que as regras são diferentes? Que exemplo dou como educador quando cobro meu aluno que tenha determinados comportamentos, mas minhas ações me contradizem?
Será justo cobrar prazos, mas, quando sou eu quem deveria cumpri-los, atropelo as regras? Será que o fato de estar, hierarquicamente, numa posição superior, me dá tal direito?
Bem, primeiro não gosto muito dessa ideia de que o professor está acima do aluno. Mas isto é assunto para um outro post. O que vem à mente é aquele ditado popular:
– Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço.
Isto acontece muito na educação dos filhos. Não é raro observar pais corrigindo os filhos por mentirem, mas eles mesmos não pensam duas vezes quando o telefone toca e do outro lado da linha há alguém indesejado.
– Diga que não estou.
Na verdade, nossas ações dizem muito mais que nossas palavras. Claro, todos falhamos. E por isso defendo a necessidade de desenvolvermos a tolerância. Não devemos cobrar das pessoas aquilo que não podemos cumprir. E se o fizermos, precisamos ter humildade para reconhecer que por vezes também falhamos. É natural, humano. Por isso, ter a capacidade de ser flexível diante dos erros dos demais é se reconhecer como igual, incapaz de ser sempre perfeito.