Sinceramente, não sei responder. Há várias hipóteses. Mas nenhuma delas combina com juventude. A juventude combina com a ousadia, com a alegria de viver e de ver a vida. Entretanto, não raras vezes tenho sido surpreendido por comentários pouco animadores vindos de pessoas que deveriam estar cheias de planos. Não, não estou sugerindo que teriam de ver um mundo “cor-de-rosa”. Nada disso. Mas são as crenças de que o mundo pode ser melhor que nos movem e motivam à construção das grandes mudanças.
Tenho pensado muito nisso. Por quê? Porque na semana passada tive um papo revelador com um garoto, caixa de um supermercado. Já o conheço há algum tempo. Sempre “jogamos conversa fora”. Mas noto seu olhar pouco esperançoso para a vida.
Nesse último diálogo, em poucos minutos, ele desfilou suas desilusões com o trabalho, com a vida, com os estudos e com o país. Sobre o emprego, reclamou que estava louco para deixar a empresa.
– Mas e daí? Quais são seus planos? Tem algo novo em vista?; questionei.
Ele respondeu que não, que ainda não tinha feito sondado nada diferente. Perguntei sobre as razões de seu desânimo em continuar no supermercado.
– Eles pagam muito pouco. Não reconhecem. Demorou dois anos para ganhar uma promoção; respondeu.
Brinquei:
– Já é alguma coisa… Pelo menos, foi promovido.
Depois de voltar a falar do salário e do não reconhecimento, ainda sustentou que o trabalho atual prejudicava os estudos. Apontou que várias vezes precisa faltar às aulas porque chega cansado em casa e não tem ânimo de ir para o colégio.
E continuou:
– Eu quero mesmo é ir embora deste país. O Brasil não tem jeito. Vai demorar para ser um país de primeiro mundo; se é que algum dia vai ser desenvolvido.
Cá com meus botões, até acredito que nosso processo de desenvolvimento não é tão satisfatório. Poderíamos ter um Brasil melhor, economicamente mais rico e com distribuição mais justa de suas riquezas. Entretanto, temos uma visão distorcida a respeito do assunto. Creditamos o problema aos nossos governantes e não notamos a nossa responsabilidade. O Brasil é tão bom quanto sua gente.
Temos uma herança histórica de atraso e de corrupção. Mas, na medida em que estabelecemos um olhar crítico para os problemas atuais, notamos que é nosso papel romper com esse ciclo vicioso.
Quanto aos jovens, ao perderem a esperança, colaboram com a manutenção de nossas contradições. A ausência de perspectiva gera passividade. Quando deixamos de lutar abdicamos do direito de construir uma vida melhor. Este direito é nosso. Quando acreditamos que é possível, identificamos oportunidades mesmo num ambiente pouco favorável. E isto sempre foi determinante para a construção uma vida de sucesso.