Considero-me um aprendiz de educador. Sou um apaixonado pela educação. Tenho o privilégio de ser professor num curso de ensino superior. É meu orgulho. Na sala de aula, tento reproduzir minhas crenças, principalmente de que o aprendizado se dá através do experimento, da aceitação dos erros, da tentativa de transformar o conhecimento teórico em prática.
Por isso, nunca busco respostas prontas, obvias. Nem apresento questões fechadas. As atividades, inclusive as avaliações, sempre exigem uma elaboração pessoal ou em grupo. Entretanto, uma elaboração criativa. Claro, é um desafio. Afinal, desde as primeiras séries nos acostumamos que as perguntas têm sempre uma resposta previsível. Também fomos formados por um conceito de educação em que o professor diz exatamente o que tem que ser feito pelos alunos.
Não gosto disso. Embora seja um crítico do construtivismo, acredito que o conhecimento é construído e depende da capacidade de reflexão dos próprios acadêmicos. É isso que sugiro que façam, pois a vida é assim. Não existem receitas para os problemas cotidianos. Eles surgem e exigem o melhor de nós. Não encontramos as soluções em manuais, livros etc – ainda que estes possam contribuir para darmos conta de nossos desafios.
Recordo de uma conversa recente com uma amiga recém-formada. Já repórter de televisão, ela conta que não raras vezes se sente perdida diante da obrigação de construir uma reportagem. Lá estão os elementos necessários – o fato, os entrevistados, o cenário etc. Mas como contar a história? Nenhum manual de Jornalismo nos ensina como contar cada história. Oferece-nos a técnica, as possibilidades estéticas de um texto, mas a história será sempre do repórter.
Quando não desafiamos nossos alunos a construírem suas próprias respostas, impedimos que tenham a oportunidade de experimentarem, ainda na academia, um pouco do que representa a realidade do mercado profissional. Claro, nem sempre nós professores acertamos a dose nas atividades propostas. Outras tantas vezes, somos incompreendidos. E, lamentavelmente, na maioria dos casos, provocamos insatisfação.
Culturalmente, muitos de nossos alunos entendem as teorias, trabalhos, atividades e até mesmo as aulas como um peso, uma obrigação. Lá estão para cumprirem a formalidade exigida no caminho que os separa do diploma. Ruim para eles; pior para a sociedade, que perde a chance de se beneficiar da força e motivação de nossos jovens.
De certa forma, temos responsabilidade por essa visão distorcida. Ao longo dos anos, pouco contribuímos para que a educação fosse vista como formação de conhecimento. Trabalhamos muito mais a relação educação para o sucesso profissional, pensando em ganhos financeiros em função dos anos na escola.
Ao fazer isso, criamos a ilusão de que tudo que se aprende tem que ter uma função prática no dia a dia das pessoas. Obviamente, isto não acontece. O aluno se frustra e vive diariamente o intenso desejo de que as férias cheguem o mais rápido possível e de que a escola logo seja apenas uma lembrança no passado.
Dá para mudar isto? Acredito que sim. Mas temos muito por fazer. E, detalhe, o processo de convencimento e mudança de conceitos não se dá de um dia para o outro. Para os que acreditam na educação, exige-se persistência e principalmente capacidade de compreender que nem sempre seremos ouvidos.
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