Tempos atrás falei aqui sobre a mediocridade do motorista maringaense. Minha opinião é a mesma. Mas hoje gostaria de acrescentar algumas questões. Afinal, o número de mortes no trânsito já beira as 70 neste ano. Vale apontar que as contas oficiais são outras. Óbitos na avenida Colombo são computados à parte. A fiscalização da via é de responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal. Então, o município acompanha o que ocorre naquela via a uma certa distância. Na última oportunidade que falei com o secretário de Transportes de Maringá, Walter Guerlles, ele relatava que só a Colombo registrava 14 mortes. Logo, as estatísticas oficiais do município, nos domínios da Setran, não chegavam a 50 neste ano.
Cá com meus botões, entendo que isso pouco importa. Se a Colombo faz parte ou não das estatísticas da prefeitura, é detalhe técnico. Coisa da burocracia administrativa e da divisão de domínios territoriais. O que interessa, na minha opinião, é o fato de serem maringaenses, gente nossa, irmãos nossos que estão morrendo vítimas do trânsito. Se perderam a vida na Colombo, na avenida Brasil, na Morangueira, Mandacaru ou numa ruazinha qualquer lá do conjunto Requião é mera questão de registro da ocorrência. Vale a morte; o fato de uma pessoa ter deixado familiares, amigos, sonhos por causa da violência no trânsito.
Por sinal, o próprio termo “violência” tem que ser repensado quando tratamos da nossa cidade. Claro, o cidadão morre geralmente vítima de um choque violento. Entretanto, não dá para dizer que o trânsito é violento em Maringá. O fluxo de veículos é ruim em nossa cidade. Não é fácil circular, principalmente pela área central. Quando tratei dessa “mediocridade”, apontei que a onda verde é comprometida, muitas vezes, pela nossa incapacidade de fazê-la funcionar. Travamos o trânsito com nossa pouca habilidade ao volante. Logo, boa parte dos acidentes nada tem a ver com velocidade. Por outro lado, raramente alguém morre no trânsito se não houver imprudência e “pé pesado” no acelerador. Mas por que estou falando disto? Porque os óbitos registrados neste ano não têm relação com as mudanças feitas na área central – os chamados binários – e nem com a frota de veículos, que não para de crescer.
As mortes estão ligadas a um conjunto de outros fatores que, isolados, também não poderiam ser considerados. Por exemplo, fiscalização. Não dá para dizer que só fiscalização – com agentes ou equipamentos (câmeras, radares etc) – acabaria com o problema. Precisamos de mais investimentos em fiscalização, mas sozinha não é a causa das mortes. Ainda que tivéssemos mil agentes (ao que parece, são só 80), não cobririam toda extensão territorial de Maringá, 24 horas por dia, sete dias por semana. Colocar radares e câmeras em todos os cruzamentos? Praticamente impossível. Não há logística capaz de dar conta disso.
E os quebra-molas que foram retirados? O fim deles tem facilitado os abusos. O motorista corre mais. Aumentam as chances de acidentes. Mas ainda que estivessem distribuídos pela cidade, sozinhos, os redutores de velocidade não evitariam as mortes.
Diante dessas considerações fica a pergunta: onde está a causa do problema? Mais fiscalização (com agentes e equipamentos), quebra-molas etc fazem parte de um conjunto de ações que devem estar na lista de preocupações da Setran. Investir e ter mais rigor na formação de novos motoristas também é fundamental. Contudo, o condutor precisa ser mais consciente.
É verdade que o poder público nunca pode contar que o motorista fará a parte dele. Não é papel da Setran apostar em quem está atrás do volante. A função dela é conscientizar, fiscalizar, multar, punir. Sustentar que o motivo está no motorista, que é imprudente, só traz acomodação.
Mas nós, cidadãos, podemos reclamar mais responsabilidade de nossa parte. Uma atitude coerente com a realidade do trânsito parte de nós. Afinal, nenhuma campanha da prefeitura terá sucesso se não respondermos positivamente aos seus apelos. Dias atrás ouvi do especialista em trânsito, Luís Riogi Miura: “não temos acidentes, pois as ocorrências registradas em Maringá poderiam ser plenamente evitáveis”. Esta escolha é nossa.