Vexame histórico. Vergonha. Desastre… Enfim, há várias palavras para caracterizar os 7 a 1 sofridos na semifinal da Copa contra a Alemanha. Entretanto, a derrota dessa terça-feira, 8 de julho, não começou às 17h no Mineirão. Os 7 a 1 sofridos são a metáfora de uma decadência. A goleada iniciou muito antes… O que aconteceu em Belo Horizonte é resultado de uma série de erros que antecedem a própria estreia do Brasil no dia 12 de junho. E há mais de um responsável.
Vamos tentar entender o que aconteceu.
Felipão e Parreira – quando assumiram o Brasil, após a demissão de Mano Menezes, foram a melhor aposta da CBF (isso, entre as opções de técnicos brasileiros). A seleção estava desacreditada. Os jogadores, que fossem convocados, precisavam confiar no comando técnico. Felipão e Parreira foram os últimos campeões do Brasil. Eram respeitados. Apesar disso, estão defasados. Não assimilaram o que há de mais moderno no futebol mundial. Iludiram-se com a conquista da Copa das Confederações diante da Espanha e praticamente não mudaram a equipe que venceu aquela competição – mesmo com alguns jogadores em má fase.
Convocação – alguns nomes não deveriam estar entre os 23 convocados. Por exemplo, Fred, Hulk, Bernard e Jô. Na verdade, o Brasil sofre com a falta de atacantes. Não tem ninguém brilhante. Neymar é nossa maior referência. Ainda assim, esses quatro não são jogadores com futebol para defender uma seleção pentacampeã.
Equipe – a gente pode até questionar a convocação de mais alguns nomes. Porém, o futebol brasileiro não tem produzido jogadores brilhantes. O momento é ruim. Talvez tenhamos a pior geração dos últimos anos.
Escalação – mesmo com uma equipe limitada, Felipão escalou mal ao longo de toda Copa. Talvez o melhor momento do técnico foi contra a Colômbia. Ontem, por exemplo, o treinador fez uma péssima aposta. Deve ter achado que a identificação com o povo mineiro, com o estádio, ser ovacionado pela torcida, faria Bernard jogar o que não estava jogando nos treinos. Errou. E feio.
Jogadores – não vejo culpa neles. Mesmo Fred, o mais atacado, parecia comprometido com a seleção. O problema é que ele e outros que foram mal na Copa não estão num bom momento ou não possuem futebol para a seleção. Jogador não tem culpa de ser convocado e escalado. Pode ser responsabilizado por ser displicente. Não foi o caso. Eles só não jogaram o suficiente– e nem foram treinados taticamente – para disputar o Mundial.
CBF – aqui é que aparecem os maiores problemas. Vejamos:
a) não aprendeu com a eliminação contra a Holanda em 2010;
b) naquele ano, apostou em Mano Menezes, que tinha como principais conquistas o campeonato brasileiro da Série B e uma Copa do Brasil pelo Corinthians;
c) com o desastre de Mano no comando técnico, a entidade foi conservadora: apostou no que parecia seguro, Felipão e Parreira, os dois últimos campeões. Faltou ousadia. Havia clima para contratar um técnico estrangeiro. O espanhol Pep Guardiola era um nome cogitado;
d) o título da Copa das Confederações em 2013 criou uma onda de ilusões. A CBF achou que tinha encontrado o caminho da vitória para o Mundial. Felipão e Parreira acreditaram que os 3 a 0 contra os espanhóis representava a fórmula para o título. A tática já estava definida. Não era necessário treinar nada diferente. Só cuidar do espetáculo com a imprensa. Isso deixou o time óbvio, previsível;
e) o Brasil de Dunga se fechou, em especial para a Globo. Criou uma imagem de uma equipe carrancuda, mal-humorada. O presidente da CBF, José Marin, não queria isso. Então deixou as portas abertas da seleção. E comprometeu completamente os preparativos da equipe. O time estava na tevê, mas não em campo treinando;
f) a CBF foi política. Não quis criar desconfortos com presidentes das federações levando a seleção para São Paulo, ou para Minas, ou para a Bahia etc etc… O Brasil concentrado num desses lugares, deixaria insatisfeitos os cartolas dos demais estados/clubes. Quis agradar a todos e ficou em Teresópolis. A Granja Comary é aberta. Todo mundo espia, vê… Não dá para fazer treinos fechados, não tem como ensaiar as táticas. Chegou-se ao absurdo de variações táticas serem treinadas uma única vez por dez minutos apenas.
Enfim, o Brasil segue amador. Acha que emoção, vontade, apoio da torcida ganham jogo. Na verdade, podem ajudar, mas o futebol moderno pede estratégia, treinamento, variações táticas. Os cartolas e técnicos são dinossauros. Estão no século passado. E não há mudança prevista. Entre os nomes para substituir Felipão e Parreira aparecem: Muricy Ramalho e Vanderlei Luxemburgo. Dá pra acreditar?
PS – A gente precisa diferenciar a seleção e sua preparação e a organização da Copa. São dois assuntos. A derrota do time da CBF não reflete a organização do Mundial como evento. Este seria um outro assunto (embora também passível de questionamentos).
Muita emoção e pouca ou nenhuma razão.
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Tudo isto, até para mim que sou leiga em futebol, mas acompanho política e futebol no Brasil tem mais do que esporte, o dedo da política é geral, até pra mim, repito, foi fácil de observar tudo isso. Uma Seleção feita às pressas, com indicações de interesses e depositando toda esperança num único jogador.
Desde o primeiro jogo, com o gol contra feito pelo Marcelo, já deu pra sentir uma seleção sem tática e sem conjunto. Depois, foram jogos ganhos no sofrimento, nada de magia, de beleza que estamos vendo no futebol alemão.
A Alemanha ganhou e talvez ganhe a copa com todo o merecimento, souberam de verdade, montar um time e dividir a bola generosamente e todas em direção ao objetivo maior, o gol.
Pobre país que amarra seu coração na chuteira!
um abraço carioca
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Sempre honrado em recebê-la por aqui, Beth. Ótima tarde!
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