A sociedade ativa é, na verdade, uma sociedade passiva. Gente ocupada é gente que não tem tempo para refletir, para pensar.
O cidadão trabalha tanto, está tanto tempo ocupado que, ao chegar em casa, quer desligar-se do mundo. Prefere assistir qualquer bobagem na televisão, ver vídeos engraçadinhos na internet… Não tem paciência para assuntos sérios.
Os temas complexos da economia, da política e até mesmo das artes e cultura ficam para os chamados especialistas.
As pessoas de vida ativa colocam o corpo em atividade, mas a mente passa a ser mero receptáculo de informações prontas, clichês. O olhar fica embaçado pelo encantamento de frases prontas, pelo comportamento supostamente corajoso e inovador de seus mitos políticos ou de seus gurus do YouTube.
Ao manterem-se em constante atividade, as pessoas ignoram a própria passividade. Não conseguem vislumbrar que a reflexão mais elaborada tem sido ignorada, tampouco que as informações que reproduzem em suas falas são rasas e, por vezes, desprovidas de sensibilidade.
Há outra implicação: a atividade constante alimenta a ilusão da cidadania, do agir político e reforça nas pessoas a sensação de que “estamos contribuindo para o desenvolvimento do país”.
Ocupados, não percebemos que a vida ativa é ativa tão somente no corpo e na agitação da mente. Esse jeito de viver consome nossas energias para observar o mundo e suas contradições. Deixamos de ser capazes de pensar por nós mesmos na busca das soluções. Achamos chato, massante o estudo, a leitura mais complexa e preferimos o conforto do lugar-comum, do já conhecido. Tornamo-nos alienados de nós mesmos e da sociedade a qual pertencemos.